VIII Congresso da Associação Mundial de Psicanálise AMP
A ORDEM SIMBÓLICA NO SÉCULO XXI
NÂO É MAIS O QUE ERA. QUE CONSEQUÊNCIAS PARA A CURA?
Associação Mundial de Psicanálise

23 a 27 de abril de 2012
Hotel Hilton

Macacha Güemes 351, Puerto Madero
Cidade de Buenos Aires, Argentina
INÍCIO COMISSÃO ORGANIZADORA CONTATO
ATIVIDADES PREPARATÓRIAS

Terceira resenha das atividades preparatórias da EBP para o VIII Congresso da AMP
A ordem simbólica do século XXI não é mais o que era: que consequências para a cura?

E o Brasil está fervendo por todos os lados com a aproximação do VIII Congresso da AMP. As Seções e Delegações continuam com suas atividades preparatórias. Segue a resenha das atividades que aconteceram nestes últimos meses.

Na Seção São Paulo, Elisa Alvarenga apresentou a conferência "‘As meninas superpoderosas’ e a aspiração à feminilidade", lembrando que a rádio CBN noticia que Ângela Merkel, Hilary Clinton e Dilma Roussef são consideradas as mulheres mais poderosas do mundo e as apelida de "meninas superpoderosas", como as do desenho, Lindinha, Florzinha e Docinho. A notícia e a sátira ao poder das mulheres interrogam a autora: seria a posição dessas mulheres sustentada na ordem fálica, coletivizável, como parece ser a ficção das meninas superpoderosas? A ordem simbólica no século XXI não é mais o que era. Fala-se em precariedade dos laços e do sentido, em simbólico desencarnado, numa clínica orientada pelo real. Então o que é a ordem simbólica a partir da qual os analistas podem operar? Elisa aponta que o discurso analítico enlaça os elementos que na atualidade estão soltos: o sujeito, o significante mestre, o saber e o gozo e que a ordem simbólica no século XXI seria algo bem próximo do discurso analítico, que parte do real, ou do que existe, para dar-lhe nome, ou um pouco de sentido. A autora interroga: "no momento em que os sintomas atuais indicam uma pujança da pulsão de morte, o gozo feminino ser-lhe-ia um importante contraponto, quase um antídoto, ou iria na mesma direção?" Para responder a questão apresenta um caso clínico onde se verifica uma face do gozo feminino, vizinha de uma demanda de amor sem limites, que retorna para o sujeito como devastação e pergunta-se se não haveria outra face possível, mais próxima à encarnação do objeto a que uma mulher poderia presentificar para o homem como causa do seu desejo.

Na Seção Pernambuco, Analícia Calmon apresentou seu texto publicado em UM POR UM, trabalhando, através de um caso clínico, as manifestações de uma Ordem Simbólica vigente no século XX em suas transformações para uma Nova Ordem que se anuncia, bem como a passagem da primeira para a segunda clínica de Lacan, considerando, para tanto, as intervenções do analista no caso apresentado. Seguiu-se uma interlocução valiosa com os presentes, iniciada com o comentário de Gisella Sette ressaltando a importância da transmissão de uma clínica tal como foi formalizada por Analícea, em constante articulação teórica dando consistência texto. Diversas questões foram levantadas por outros colegas: Rosa Reis, Ana Cabral, José Carlos Lapenda, versando sobre as nova forma de intervenção do analista, enganches e desenganches, a inexistência do Outro, a incidência do discurso capitalista, tudo isso a partir do último Lacan e iluminado por Miller em seu seminário de 2010/2011.

A EBP-Rio recebeu como convidado Serge Cottet que apresentou seu verbete sobre a Repetição num texto vigoroso e de grande rigor teórico. Participaram da mesa como debatedoras, Maria do Rosário Collier do Rêgo Barros e Angela Folly Negreiros. Cottet teceu o conceito de repetição de Freud a Lacan, sempre atento ao fio condutor do texto freudiano, e enfatizou os pontos de corte e as mudanças operadas por Lacan. Desse modo, assinalou o caráter de insistência, de perseverança que caracteriza o Zwang e que o sujeito "repete no lugar de se lembrar", consagrando-se a repetir, sobretudo, os acontecimentos dolorosos. Destacou a perspectiva estruturalista de Lacan que traduz a compulsão de repetição, ou seja, a insistência da cadeia significante, como derivada da ordem simbólica: a anulação do real traumático pelo significante. Identificou no Seminário 11, o real ao que retorna sempre ao mesmo lugar e nisso ressaltou o vínculo com o objeto perdido. Este último pensável a partir do binário significante, fort-da, que ilustra a anulação do objeto natural pelo significante.

Ainda nesse seminário, ressaltou que Lacan introduziu outro viés para o conceito de repetição, nos diz: "o motor da repetição não é a simbolização da ausência, mas o real do trauma". Nesse caso, a repetição vai ao encontro de um real que ela não alcança. Cottet concluiu que Lacan introduziu aí uma escansão com relação à ordem simbólica. O ponto crucial do verbete se encontra na problematização desta afirmação: "a repetição enquanto pensada a partir da ordem simbólica, se apresenta como uma tentativa sem êxito de sobrepor o non-sense do encontro". Pois a isso se opõe uma repetição relativa a um modo de gozo solidário de um real insano. Nessa perspectiva, encontramos o lugar do Um de gozo, a reiteração de um S1 independente do trajeto da pulsão. A reiteração do Um confere substrato lógico ao conceito hoje inflacionista de adição. Assim, Cottet reciclou o conceito de fixação e forneceu uma nova extensão ao acontecimento de corpo que é distinta do trajeto da pulsão em torno do objeto perdido.

A Delegação Mato Grosso do Sul e Mato Grosso passou por reflexões dos desafios da psicanálise no século XXI com Marcelo Veras. Aconteceram também Oficinas de leitura dos textos do SCILICET. Os verbetes proporcionaram uma ciranda de conversa sobre o incurável, vida, luto, afetos e as possibilidades. Outros textos de Jacques-Alain Miller, Flory Kruger e Leonardo Gorostiza, foram incluídos nesta ciranda de leitura. Cristina Drummond e Carlos Genaro Gauto Fernández também estiveram presente na delegação, realizando conferências a cerca do tema a Ordem do Simbólica no Século XXI.

A Seção Minas em Atividade Extraordinária da Biblioteca Ailson Braz Sena realizou o Seminário Preparatório para o VIII Congresso da Associação Mundial de Psicanálise, que sob coordenação de Frederico Feu se fez uma conversação sobre os verbetes "Sentido" e "Pragmática", escritos para o recém lançado volume de Scilicet, com a participação dos seus autores, Antônio Áureo Beneti e Sérgio Laia.

A Delegação Paraná realizou a "Conversação da Delegação Paraná", na qual discutiu-se sobre os dez verbetes escritos pelos colegas da EBP para o recém lançado volume de Scilicet, "A Ordem Simbólica no Século XXI". Afetos, de Sandra Grostein – por Marcia Stival Onyszkiewicz; Delírio, de Rômulo Ferreira da Silva – por Gilberto Fonseca; Espetáculo, de Jorge Forbes – por Fátima Fonseca Ramos; Incurável, de Celso Rennó Lima – por Zelma Galesi; Luto, de Romildo do Rêgo Barros – por Maria Otília Holz; Possibilidade, de Ram Mandil – por Nohemí Ibañez Brown; Pragmática, de Sérgio Laia – por Inez Carneiro Brito; Sentido, de Antônio Beneti – por Renata de Paula Soares; Verdade/Mentira, de Angelina Harari – por Cesar Skaf e Vida, de Bernardino Horne – por Teresa Pavone.

Todo este trabalho vem dando o tom de entusiasmo com que nós brasileiros estamos aguardando o chegada do Congresso.